Sobre sonhos, café e cigarro.

20:15 / Postado por Ricardo(Sano) / comentários (0)

Acordou sorrindo para o sol que o despertara por entre as aberturas de sua janela. Era um bom dia. O sol forte, algumas poucas nuvens e ainda assim um vento frio que o deixava muito feliz. Esticou-se para fora da cama, ainda com um sorriso no rosto. O que não era comum de se ver logo pela manhã. Tomou seu habitual café e fumou o seu cigarro quase automaticamente. Agora sim o dia havia começado.
Banho tomado, casa arrumada, o som dos mutantes ao fundo, não haviam preocupações na sua cabeça. Ele tinha em si, todos os sonhos do mundo e ninguém para lhe dizer que sonhos não são nada mais do que sonhos.
Nem se lembrava que haviam trabalhos a serem feitos, problemas de casa pra resolver, pesquisas a terminar ou muito menos que aquele que lhe dera todos os sonhos não estava ali. Não mais. Por um tempo. Ou assim ele queria acreditar.
E quem é que não se engana por amor? Quem nunca achou que o seu amor era perfeito e os defeitos eram pequenos demais para se sobrepor às qualidades que pensava que ali existissem?
Dias passados, o amado retorna. Feliz, mas não quer o ver. Tudo bem, deve estar cansado da viagem. Pobre coitado. Vai descobrir que não passou de uma mentira.
"Precisamos conversar."
"Sim, precisamos. Estou com saudades."
"Estou chegando aí."
"Tudo bem, meu amor. Te espero."
Tomou um banho demorado, arrumou a casa e o quarto, passou o seu melhor perfume, até penteou os cabelos! Realmente, ele não sabia o que estava acontecendo.
"Oi, meu amor!"
E uma esquiva do seu abraço e seu beijo o preocuparam.
"O que houve?"
"Não podemos mais continuar assim."
"Assim como? Estamos tão bem."
"Não. Você está, eu não. Amo outro e é com ele que quero ficar."
Pobre coitado, desenganado antes do tempo. Sentimentos artificiais vomitados todo esse tempo. Em choque. Não falava. Não se mexia. Mal respirava. E então ele partiu.
Queria acreditar que fora tudo um sonho. Um sonho muito ruim. O pior sonho de todos. Pensou então pela primeira vez "se fosse um sonho, eu não estaria assim, afinal, sonhos não passam de sonhos." Estava começando a entender como tudo realmente funcionava. Entendeu que o único sonho real é aquele que se vende em padarias. E que amor não era um sentimento bom. Não para ele. Ele ficara fraco. Mas isso iria mudar.
Tempos depois, os que o conheciam antes, não o reconheciam mais. O que aconteceu com aquele rapaz que sorria, que gostava do sol para correr sozinho, que cantava alto as músicas mais idiotas de amor sem se importar com quem estivesse escutando?
Algo havia secado. E ele havia acordado para o mundo real. Onde emoções são sinais de fraqueza. Ele agora era mais um dos que descobriu a verdade sobre o amor. Ele era mais um dos que sabia que dizer "eu te amo" não era como dizer bom dia. Que era mais como praguejar.
Ele se fecharia até se encontrar sozinho. Tão sozinho que só um novo amor haveria de lhe trazer de volta do mundo dos vivos. Até que mais uma decepção o arrastasse para aquele lugar de verdades e de "não-faces" mais uma vez. Ele amaria e seria amado. Mas não seria o suficiente. Esse novo amor não era mais como um sonho. Os sonhos de verdade só estão nas padarias. E os amores de verdade, só estão na cabeça daqueles que ainda não o conhecem ou em livros de fantasia.

E hoje, ele acordou sorrindo para o sol. O tempo era perfeito mais uma vez. Acendeu o seu cigarro, tomou o seu café sentindo um prazer incomparável nas suas atitudes automáticas. Leu um romance bobo. Pensou que talvez não desconfiar tanto desse tal de amor, não fosse uma má idéia. Talvez não fosse sempre assim. Ninguém seria como aquele que o fez pentear os cabelos, mas alguém poderia ser melhor. Sentiu falta de alguém com quem passar os domingos junto, tomou um banho sonhando com alguém que ainda não conhecera. Sonhou com alguém que não era perfeito. Sonhou com alguém que mentia, que gritava, que se arrependia, que ofendia, que não estivesse sempre ali. Sonhou que esse alguém também estava sempre ali, dizia verdades, elogiava, sussurrava em seu ouvido, lhe cantava as canções mais bonitas e esqueceu mais uma vez, que os sonhos de verdade, continuam somente na padaria.


"[...]Pra segurar namorado morrendo de amor, escreve o
nome num pepino e guarda no refrigerador..."